Introdução: A liberação de biomarcadores de necrose miocárdica após revascularização cirúrgica é frequente. Entretanto, a correlação desta liberação com o diagnóstico de infarto do miocárdio (IM) Tipo 5 é bastante complexa, gerando inúmeras controvérsias, especialmente após o surgimento de ensaios com a troponina de alta sensibilidade.
Objetivo: Mensurar a liberação de biomarcadores de necrose miocárdica após cirurgia de revascularização utilizando a circulação extracorpórea (CEC) na ausência de novo realce tardio pelo gadolínio (RTG). Métodos: Neste estudo prospectivo, avaliamos pacientes com doençaarterial coronária estável, multiarterial, função do ventrículo esquerdo preservada, biomarcadores cardíacos basais normais, e indicação formal para a cirurgia de revascularização eletiva com CEC. As amostras de sangue para a mensuração de cTnI e CK-MB foram coletadas antes do procedimento e a cada 6, 12, 24, 48 e 72 horas após o mesmo. Todos os pacientes foram submetidos à ressonância magnética cardíaca (RMC) antes e após o procedimento. O diagnóstico de infarto do miocárdio (IM) foi definido como até 10 vezes o percentil 99, para os biomarcadores cTnI e CK-MB, respectivamente, e novo RTG pela RMC.
Resultados: Sessenta e nove pacientes foram encaminhados para cirurgia de revascularização eletiva com circulação extracorpórea. Desses pacientes, 54 não apresentavam novo realce tardio após a revascularização (IM tipo 5) sendo incluídos neste estudo. 39 pacientes eram do sexo masculino (72,2%), com idade média de 61,3 (±8,3) anos. A pontuação média do SYNTAX Score foi de 28 (±10). Após a cirurgia, 54 (100%) pacientes tiveram um pico de cTnI acima do percentil 99; destes pacientes, em 52 (96%) este pico foi maior do que 10 vezes o percentil 99. Por outro lado, 54 (100%) pacientes tiveram um pico de CK-MB acima do limite do percentil 99 e em apenas 13 (24%) foi maior do que 10 vezes o percentil 99. A troponina apresentou mediana do pico de 3,15 (0,12-50,0) ng/mL, 78 vezes acima dopercentil 99.
Conclusão: Comparado com os resultados da RMC, a CK-MB alcançou melhor precisão diagnóstica que a cTnl para identificar lesão miocárdica. Estes dados permitem sugerir mudança dos valores atuais de corte da troponina para o diagnóstico de infarto relacionado á revascularização cirúrgica do miocárdio.